quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Chatwin, erudito cigano

Ainda no mesmo livro de Calasso, La follia che viene dalle Ninfe, há um texto sobre Bruce Chatwin, uma espécie de texto-homenagem, que serve para Calasso relembrar suas conversas com Chatwin. Segundo Calasso, Chatwin havia lhe dito que pensava em escrever um livro que tivesse a forma de uma longa carta, cujo destinatário seria ele, Calasso. Chatwin já havia pensado no título: Letter from Marble Bar. Em conversa com Salman Rushdie, Calasso descobre que Chatwin também havia planejado um livro com ele, que também já tinha título, mesmo antes de ser escrito: Arkady. Segundo Rushdie, escreve Calasso, o livro planejado por Chatwin tomaria a forma de um diálogo entre dois homens (Chatwin e Rushdie) sob uma árvore em Alice Springs. Segundo Calasso, o desenvolvimento ininterrupto de projetos e de livros-por-vir funcionava para Chatwin como uma resistência à doença, à finitude, à imobilidade. Talvez o que mais assustava Chatwin era a perspectiva de parar - parar de viajar, parar de escrever. Calasso reproduz uma definição de Rushdie, que qualifica de brilhante: Chatwin era um gypsy scholar, uma espécie de leitor infatigável sempre em movimento, nômade, pouco preocupado com fronteiras de pertencimento, um contrabandista, um errante.

4 comentários:

  1. Não pelo gosto torto que tenho, mas a figura do contrabandista merece outras menções e alguma reflexão para além disso. Basta ver que o escambo entre etnógrafos e literatos passeia com repetição de criar trilha pelo universo do contrabando. Não suficiente citar o "Afrique phantôme" de Leiris, há o anônimo "Enigma Variatios" de Richard & Sally price. Nomadismo de contador de histórias joga, parece, na chave e no time do contrabandista. Que bom que chamou a atenção disso.

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  2. Já viu o site sobre o Chatwin: http://www.brucechatwin.co.uk/ ?

    O dono é Jonathan Chatwin, mesmo sobrenome, não sei se é parente. Ele publicou uma tese sobre ele: https://eric.exeter.ac.uk/repository/handle/10036/41273

    Favoritei faz tempo pra ler, mas cadê tempo?

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  3. E só por curiosidade, o Jonathan Chatwin, além de crítico e escritor, também é músico. E dos bons [pelo menos foi o que eu achei]:

    http://jonathanchatwin.bandcamp.com/

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  4. É, eu também tenho uma porção de coisas online aqui pra ler, mas vou deixando, vou deixando...

    Que bom que o Chatwin gerou comentários, vou escrever mais sobre ele.

    E sobre os contrabandistas, um excelente livro: Bandoleiros, João Gilberto Noll.

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